domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ópera dos mortos

tijolos nos aproximam
 as casas geminadas
ando pela sala
portas escancaradas
cospem chaves
e solidão
anfitriã desejosa
fecha as janelas
recolhe o pó.
os dedos deslizam
sobre as xícaras na mesa
as migalhas de pão
confundem-se com o bordado inglês
manteiga rançosa
resto do matinal sustento
aroma suspenso
brioches mofados
marcas de batom nas taças
tudo distante
e por alguns instantes
os mortos repousam
sobre as lembranças
desvirginando pensamentos
em uma única palavra:
insanidade
e ao sono do piano
provo Mozart.




SECA DE LEI.


turbilhão de imagens

faróis acesos
setas – lanternas
laranjas, verdes e vermelhas
incandescem as multidões

na mão esquerda o talão
a caneta baila sobre a tinta
à direita: azul e preta
cores da punição


embriagados nos balões
suspensos – lei seca

assusta a multidão

que segue - impune

corrupta e surda

atropelando a moral

imoralmente calados

mortalmente deuses


MOZART

Lunáticos

olho as esquinas
avesso aos faróis acessos
os postes estreitam o brilho
a covarde luz da lua
se cobre de concreto
edifícios encouraçados
de visão obtusa
projetam a seda dos ventos,
as cortinas estremecem
violentadas pela privacidade
a solidão alucina
lunáticos trafegam as calçadas


na folia, na anarquia
e despem as máscaras
as vestes – os sexos
somos iguais
nas ruas, nas mansões,
nos barracos que verticalizam
as grades limitadas de nossos desejos.
MOZART

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tradução


A PALAVRA

volta a margem
e invoca à outra imagem
aquele verso indefeso
picado
PALAVRA por PALAVRA
dela precipita


aquela outra
que expressa
a primeira
que tem o significado
porém forte a PALAVRA
que traduz no verso

a realidade,
prima é dona
que gerou o significado
lembrança que ainda provoca
a derradeira


PALAVRA

MOZART

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Zodíaco

Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso.
Albert Einstein

deus guerra - Ares garras
mente e escrava
soluçam as esquinas
desiguais
saturno rompe os sóis
a lua vacila
as estrelas virgens
sempre sós
giram, calibram
em cabeça do corno - touro
confusos desusos do tempo
leão manso goza
serpenteia as brechas
centaurum os becos
fendas e falos
ejaculam em aquário
nas águas – peixes em mescla
montanha abaixo
capricorniavam limites
escorpião gêmeos seres
fere a rabeira
a promíscua seca
negro, branco – morenos
mulatos molambos
um bambo que rodeia o ar
(Mozart)